Produção de texto – 9º A

3º bimestre / 2017

Professora Silviane Maria de Souza

 

Tudo estava bem

Luana Sayuri Lopes

Tudo estava bem, não tinha ninguém atrás dela, era apenas mais uma turista. Era isso em que Lílian queria acreditar, mas essa era a dura verdade.

Lílian não fugia de ninguém, só de si mesma e de seu passado, o que fazia com que ela perdesse um pouco de sua sanidade a cada passo que dava.

Ninguém estava atrás dela. Esse era o mantra que repetia. Ninguém a queria morta, fora tudo um pesadelo.

Ela continuava avançando, indo em direção a um dos barcos que a levariam para longe daquela cidade e de tudo que, um dia, amou e, mesmo com todas as memórias maravilhosas que tinha daquele lugar, não aguentaria mais um minuto lá. Simplesmente não poderia ficar e nunca mais retornaria.

O barco em que velejaria não era muito grande, mas conseguiria hospedar até seis pessoas. Era de um branco que fazia seus olhos arder e ela se deixou relaxar um pouco em um duro sofá, também branco, que fazia parte da traseira. Talvez conseguisse acalmar a mente nessa viagem.

O sol começava a se esconder atrás dos pequenos morros que ficavam ao norte do pier e o céu adquiriu várias tonalidades de laranja até chegar a um tom rosado. Era algo lindo de se ver, mas não a impediu de se lembrar daquela fatídica noite.

Se ela se esforçasse um pouquinho, conseguiria sentir o peso de seu filho em seus braços e ouvir a voz de seu marido ecoando pela casa e, por um breve momento, parecia que eles estavam com ela e que toda sua alegria perdida havia retornado.

Mas como dizia um velho ditado, tudo o que é bom dura pouco, até em sonhos! Ela, definitivamente, não precisava se esforçar para se lembrar de seu marido gritando para ela pegar seu precioso filho e correr. O medo percorria sua pele como se estivesse revivendo tudo outra vez e, ao longe, o sol continuava a baixar sem nenhuma preocupação.

Lílian tentou parar de se lembrar, mas era como se uma cobra se enrolasse em sua mente e a paralisasse com todas as sensações mais horrendas que se possa imaginar e, quando se lembrou do vermelho que cobria as duas pessoas que mais amava, ela gritou.

Pessoas de barcos próximos a encararam, mas a única coisa em que tentava prestar atenção era em como normalizar sua respiração. Lágrimas escorriam em seu rosto, seus dedos se perdiam em seus cabelos, como se ela tentasse se agarrar à realidade, e ela olhou para o céu. Por que fora a única que sobrevivera?

Agora, apenas duas tonalidades de laranja eram visíveis e, se ela olhasse para cima, era possível ver algumas poucas estrelas.

Em meio ao escuro abismo que a consumia, ela sorriu para as estrelas, com esperança de que seu marido e filho vissem que ela estava bem… mas nada estava bem.