Camila de Campos Carecho

Auggie, como é carinhosamente chamado por seus familiares e amigos, nasceu com uma deformidade facial, responsável por diversas complicações e 27 cirurgias médicas que ele precisou enfrentar durante boa parte da infância. Até os 10 anos de idade ele estudava apenas em casa com sua mãe, mesmo ela não sendo professora. Após muito discutirem a respeito, os pais dele decidem que talvez seja a hora dele ir para a escola, porém se ele também quiser.

Auggie sabe muito bem como é estar perto de pessoas que o olham e se assustam, cochicham a respeito de sua aparência e até mesmo se afastam dele devido ao medo de seu rosto. Em suas idas ao parquinho, já foi alvo de apelidos e sabe a reação previsível das pessoas que, ao contrário de sua família, não estão habituadas com sua deformidade. A questão é que, exceto algumas complicações de saúde como um problema de audição e também dificuldade em mastigar alimentos, Auggie é um garoto como qualquer outro, apaixonado por Star Wars e muito inteligente, ele sempre se pergunta como seria sua vida caso seu rosto fosse “normal”.

Se uma simples ida ao mercado ou parquinho já era difícil para Auggie, ficar rodeado por crianças todos os dias não parece tarefa fácil e agradável, pois para ele o maior desafio é estar com crianças, já que elas não disfarçam tão bem quando o veem, por isso, prefere usar um capacete de astronauta quase sempre. Ele acaba aceitando se encontrar com o diretor antes do início das aulas, sem saber que já nessa visita conheceria três alunos convocados para lhe mostrar a escola. O encontro com esses alunos não é fácil e faz a mãe se arrepender de ter sugerido que ele fosse à escola, mas por algum motivo agora Auggie está determinado e diz a sua mãe que quer frequentar a escola, mesmo com tantos desafios que virão.

August Pullman (esse é o seu verdadeiro nome) que sempre ignorou todos os olhares chocados e  as expressões espantadas para seu rosto,  enfrenta dificuldades de se habituar com os colegas, que parecem ter medo de encostar nele, ou até de pegar algum objeto que foi tocado por ele antes e fazendo comentários maldosos o tempo todo. Ainda assim ele faz amizade com Summer, uma menina doce que o recebe bem já no primeiro dia de aula, e Jack que, apesar do que dizem as más línguas, realmente quer ser amigo de Auggie. Os dois o ajudam a enfrentar o bullying e as provocações, além de algumas outras situações muito marcantes, constrangedoras e de superação para Auggie.

Ele só quer fazer com que os colegas entendam que ele é um menino normal, que ele gosta de coisas normais, fala de coisas normais, faz piada, é inteligente, gosta de Ciências.

Enfim, ele enfrentou todas essas situações e foi se mostrando, a cada página virada, um menino extraordinário. Com muita determinação, apesar de tantas dificuldades, Auggie foi destaque da escola naquele ano pela sua força, coragem, bondade, amizade, enfim pela sua grandeza, afinal “A grandeza não está em ser forte, mas no uso correto da força… Grande é aquele cuja força conquista mais corações pela atração do´próprio coração” (palavras do diretor da escola, páginas 305 e 306).

O livro não “fala” apenas do bullying, mas acima de tudo sobre crescimento, amadurecimento e formação de caráter. Indico a leitura a todos que estão envolvidos com o mundo escolar, mas com uma caixa de lenços do lado. É muito emocionante,é lindo, uma lição de vida dada por uma criança de apenas 10 anos que só quer ser como as outras.

 

“Toda pessoa deveria ser aplaudida de pé pelo menos uma vez na vida, porque todos nós vencemos o mundo” – Auggie ´(página 313)