Uma jovem pesquisadora universitária encontra uma senhora de 96 anos e se torna a grande amiga dela. Uma mãe de dois filhos, ao saber que sua amiga não poderia gerar, lhe oferece sua barriga para gestar os filhos dela. Um jovem funcionário de uma escola encontra seu amigo de infância em depressão por conta de uma morte iminente e lhe oferece seu rim sem pedir nada em troca. De que essas histórias falam?

Todas essas histórias foram contadas em uma recente reportagem* sobre amizade. Elas surpreendem pelo tipo de envolvimento e pelo nível de comprometimento dos relacionamentos. O comum é que jovens não toleram idosos, que uma mulher suporta nove meses de gravidez apenas de seu próprio filho, que a doação de um rim ocorre entre parentes próximos ou, no máximo, por meio de uma negociata no mercado negro de órgãos. Importar-se com a dor do outro a ponto de transformar a realidade dele em uma aflição pessoal tem sido realmente raro.

Vivemos tempos narcisistas. As “selfies” e as redes sociais são símbolos do quanto os adolescentes gostam de promover a si mesmos. É a sequência de uma geração de crianças autocentradas que não aprenderam a sair de si mesmas à medida que saíram da meninice. Sofremos as consequências em nossas casas e sociedade. (1) Encontramos jovens tão focados em suas próprias carências que são emocionalmente adoecidos e desequilibrados em seus relacionamentos. Ora rejeitam quem se aproxima para uma amizade pura e profunda, ora se entregam a amizades exclusivistas, interesseiras e perigosas.  (2). Temos uma quantidade enorme de adultos egoístas, que até sofrem por não terem relacionamentos autênticos e comprometidos, mas preferem a aparente segurança do próprio claustro.

Mas ainda há tempo de sermos diferentes. O segredo está numa palavrinha pouco conhecida, mas muito especial. Alteridade é a capacidade de envolver-se com o outro a ponto de enxergá-lo como ele realmente é e de enxergar a si mesmo a partir dele. Quanto mais focamos no outro, mais nos conhecemos. Nossas avaliações sobre nós mesmos diante do espelho não são muito seguras. Os relacionamentos nos oferecem muito mais possibilidades de confronto com nossas virtudes e mazelas. Eles não expressam a verdade definitiva sobre nós, mas oportunizam percepções e consequentes transformações que não seriam possíveis se vivêssemos isolados. Outro benefício é no campo da saúde emocional. Quanto mais nos dedicamos ao outro, mais cultivamos o amor prático e amar faz muito bem. Amor não é somente o contrário de ódio, é o oposto de egoísmo. Amar significa ser capaz de abrir mão de direitos pelo privilégio de ajudar o outro a ter o direito dele. Esse amor nos livra inclusive do peso de nossas aflições e sofrimentos. Quando nos envolvemos com a dor do outro, nossas dores parecem menores e isso nos ajuda a passar por elas sem sermos vencidos pela depressão, por exemplo. Se o que temos diante de nós é o sucesso do outro, isso nos livra do perigo da inveja e da autocomiseração.

Eu quero amigos e você? O caminho pode estar meio perdido, mas precisamos encontrá-lo. Vamos preferir olhar para o outro até realmente percebê-lo. Passemos a cultivar esse ambiente de alteridade que promove amizades dentro de casa. Uma abordagem mais simpática, um olhar mais empático, um tom mais cordial são atitudes simples que formam bons cenários para amizades. Vamos estender nossas agendas e promover encontros casuais com outros pais, outras mães e outros filhos. Vamos valorizar momentos ao redor da mesa, em que comer e conversar oferecem excelentes gatilhos para grandes amizades. Mas não vamos fazer isso uma vez ou outra. Amizade leva tempo para se construir. É necessário insistir. Quando cultivar amigos for um hábito, certamente o egoísmo, o desequilíbrio emocional e a solidão serão apenas eventualidades. Como disse o sábio rei Salomão: “É melhor ter companhia do que estar sozinho, porque maior é a recompensa do trabalho de duas pessoas. Se um cair, o amigo pode ajudá-lo a levantar-se. Mas pobre do homem que cai e não tem quem o ajude a levantar-se!” (Eclesiastes 4:9,10)

 

Que tal refletir em família?

  1. Ao redor da mesa, com um lanchinho bem gostoso, todos podem responder às seguintes perguntas:
    1. Eu tenho sido um bom amigo para minha família?
    2. Quem são meus grandes amigos fora da minha casa? Por que eu os considero grandes amigos?

 

  1. Depois, aproveitando as férias, poderiam fazer uma agenda de quais amigos serão convidados para um gostoso bate-papo ao redor da mesa.

 

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Um grande abraço,

Tony Felicio

Professor de Valores Para Vida

 

* Globo repórter de 26 de maio de 2017.

(http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2017/05/jovem-doa-rim-para-salvar-vida-do-amigo-de-infancia.html)